quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

feiticeiros,lendas,santos e padroeiros

George Pickingill
George Pickingill foi uma lenda de seu tempo, um temido “Homem Sábio” por moradores locais, um homem extremamente procurado e reconhecido entre Bruxos e praticantes do Ocultismo.
George nasceu em 1816, o mais velho dos nove filhos de Charles e Susannah Pickingill. Eles moravam em uma pequena vila em Essex chamada Hockley. Mais tarde ele se mudou para uma vila próxima de Canewdon onde ele morreu em 1909.
“Old George” como ele ficou conhecido era um bruxo hereditário e dizia-se capaz de traçar a sua ancestralidade por séculos, até o chegar em “Julia – A Bruxa de Brandon”, uma mulher que morou em uma vila ao norte da região de Thetford em Norfolk. Julia como a lenda relata, foi contratada para fazer cantos mágicos para as tropas “Harewood the Wake”, inspirando-os na batalha contra os Normandos. Em retaliação, os Normandos incendiaram a vila dela e a levaram para fogueira em 1071. Desde então, cada geração da família Pickingill tem servido como Sacerdote/isa para a Antiga Religião.


Old George  (adaptaçao)

George assim como o pai, era um simples fazendeiro, no entanto, todos que o conheciam o tinham em alta conta. Muitas pessoas de vila tinham medo dele e de suas misteriosas habilidades mágicas. Isto era provavelmente em face de pura ignorância, medo ou superstição que ainda permeava a Bruxaria naquela época. Dentro dos círculos do Ocultismo ele era altamente considerado, sendo consultado por pessoas de todas as regiões da Inglaterra, Europa e Estados Unidos.
Durante o curso de sua vida, George estabeleceu um total de nove Covens. Eles ficavam situados em Norfolk, Essex, Hertfordshire, Sussex, e Hampshire. George em vários aspectos era extremamente zeloso, pois quando ele dava início a um novo Coven; ele insistia que os lideres do novo Coven apresentassem evidencias de que ele ou ela tinham vindo de uma linhagem de Bruxos Hereditários. Cada Coven que ele formou adoraram o “Deus de Chifres (“Horned God”) e usavam um leque básico de rituais, no entanto George mudava com freqüência, rebuscando e introduzindo novos conceitos na medida em que eram experimentados e aprovados. Todos os rituais eram conduzidos por mulheres e envolviam a nudez e a magia sexual.
Aleister Crowley é creditado como tendo sido membro de um de seus Covens durante um período próximo ao ano de 1899. Acredita-se que ele obteve o Segundo Grau antes de ter sido afastado por sua atitude negativa em relação às mulheres e o comportamento deplorável que ele apresentava. Outros pupilos que merecem ressalva são dois Maçons que atendiam pelos nomes de “Hargrave Jennings” e “W.J. Hughan”. Mais tarde, ambos se tornariam fundadores da “Societas Rosicruciana in Anglia”; antecessora da Ordem da Aurora Dourada (Golden Dawn).
Além dos seus famosos “Nove Covens”, “Old George” possuía um lado mais sinistro e que o trouxe notoriedade. George não escondia o seu desprezo por Cristãos e Autoridades Locais. Ele abriu campanha aberta contra a Religião Cristã de tal forma que se aliou com cultos Satânicos. Este posicionamento trouxe um conflito dentre os Mantenedores da Arte, que eram contra este tipo de aliança.
Ao contrário do que existe na crença popular em prol de muitos artigos errôneos e oriundos de uma imprensa sensacionalista da época. Bruxas não acreditam em “culto ao diabo”, nem invocam Satanás durante um ritual para dar andamento com feitos malignos. Satanás e o Diabo são produtos do Cristianismo e não tem nenhum vínculo com a Antiga Religião. A Antiga Religião era praticada largamente antes de o Cristianismo aparecer. Com este fato em mente os Elders (Antigos da Arte) tinham um bom motivo para fazer objeção às argumentações constantemente feitas por “Old George”, preferindo o segredo e a discrição em vez de provocar a atenção popular que ele suscitara.
Depois da morte de Old George em 1909 e passados uns 30 anos, Gerald B. Gardner foi iniciado dentro de um de seus Covens descendente em Hampshire. Ele e outros começaram a escrever abertamente sobre Wicca e Bruxaria. Gardner encontrou com Aleister Crowley pouco antes da morte deste, que concordou em retransmitir tudo o que podia lembrar dos rituais ensinados de Pickingill, os quais Gardner, consequentemente, incorporou em seu Livro das Sombras. Quando em 1951 a antiquada Lei contra a Bruxaria foi abolida, ocasionando um ressurgimento do interesse sobre a Antiga Religião. Muitos Elders (Antigos da Arte) ficaram preocupados, com medo de que a exposição das atividades envolvendo cultos Satânicos e a figura de Old George pudesse trazer alguma distorção ou mesmo prejudicar a imagem recente da Wicca e da Bruxarial Tradicional.
Em prol de estabelecer uma proteção contra isso os Elders (Antigos da Arte) da Tradição Hereditária do Leste da Bretanha conspiraram para desacreditar qualquer reivindicação feita por Gardner e outros sobre a sobrevivência da Bruxaria Hereditária. Inclusive no que diz respeito a erradicação de muitos ‘rastros’ de “Old George” e seus “Nove Covens” ao máximo possível. O resultado disso é que hoje em dia, a real importância das contribuições de Old George para o renascimento da atual Bruxaria, muito provavelmente, nunca será identificada.


São Cipriano

A lenda de São Cipriano – O Feiticeiro – confunde-se com um outro célebre Cipriano imortalizado na Igreja Católica, conhecido como Papa Africano. Apesar do abismo histórico que os afasta, as lendas combinam-se e os Ciprianos, muitas vezes, tornam-se um só na cultura popular. É comum encontrarmos fatos e características pessoais atribuídas equivocadamente. Além dos mesmos nomes, os mártires coexistiram, mas em regiões distintas.

Cipriano – O Feiticeiro – é celebrado no dia 2 de Outubro. Foi um homem que dedicou boa parte de sua vida ao estudo das ciências ocultas. Após deparar-se com a jovem (Santa) Justina, converteu-se ao catolicismo. Martirizado e canonizado, sua popularidade excedeu a fé cristã devido ao famoso Livro de São Cipriano, um compilado de rituais de magia.
A fantástica trajetória do Feiticeiro e Santo da Antioquia, representa o elo entre Deus e o Diabo, entre o puro e o pecaminoso, entre a soberba e a humildade. São Cipriano é mais que um personagem da Igreja Católica ou um livro de magia; é um símbolo da dualidade da fé humana.
Filho de pais pagãos e muito ricos, nasceu em 250 d.C. na Antioquia, região situada entre a Síria e a Arábia, pertencente ao governo da Fenícia. Desde a infância, Cipriano foi induzido aos estudos da feitiçaria e das ciências ocultas como a alquimia, astrologia, adivinhação e as diversas modalidades de magia.
Após muito tempo viajando pelo Egito, Grécia e outros países aperfeiçoando seus conhecimentos, aos trinta anos de idade Cipriano chega à Babilônia a fim de conhecer a cultura ocultista dos Caldeus. Foi nesta época que encontrou a bruxa Évora, onde teve a oportunidade de intensificar seus estudos e aprimorar a técnica da premonição. Évora morreu em avançada idade, mas deixou seus manuscritos para Cipriano, dos quais foram de grande proveito. Assim, o feiticeiro dedicou-se arduamente, e logo se tornou conhecido, respeitado e temido por onde passava.
Vivia em Antioquia a bela e rica donzela Justina. Seu pai Edeso e sua mãe Cledonia, a educaram nas tradições pagãs. Porém, ouvindo as pregações do diácono Prailo, Justina converteu-se ao cristianismo, dedicando sua vida as orações, consagrando e preservando sua virgindade.
Um jovem rico chamado Aglaide apaixonou-se por Justina. Os pais da donzela (também convertidos à fé Cristã) concederam-na por esposa. Porém, Justina não aceitou casar-se. Aglaide recorreu a Cipriano para que o feiticeiro aplicasse seu poder, de modo que a donzela abandonasse a fé e se entregasse ao matrimônio.
Cipriano investiu a tentação demoníaca sobre Justina. Fez uso de um pó que despertaria a luxúria, ofereceu sacrifícios e empregou diversas obras malignas. Mas não obteve resultado, pois Justina defendia-se com orações e o Sinal da Cruz.
A ineficácia dos feitiços fez com que Cipriano se desiludisse profundamente perante sua fé e se voltasse contra o demônio. Influenciado por um amigo cristão de nome Eusébio, o bruxo converteu-se ao cristianismo, chegando a queimar seus manuscritos de feitiçaria e distribuir seus bens entre os pobres.
Em um capítulo de seu livro, Cipriano narra um episódio ocorrido após sua conversão:
“Numa noite de sexta-feira, caminhava por uma rua deserta quando se deparou com quatorze fantasmas. Essas aparições eram bruxas que imploravam ajuda. Cipriano respondeu-lhes que havia se arrependido de sua vida de feiticeiro, e que havia se tornado temente a Jesus Cristo. Logo depois caiu em sono profundo, e sonhou que a oração do Anjo Custódio o livraria daqueles fantasmas. Ao despertar teve uma breve visão do Anjo. Assim, auxiliado pela oração de São Gregório e do Anjo Custódio, esconjurou e livrou a alma atormentada das bruxas.”
As notícias da conversão e das obras cristãs de Cipriano e Justina, chegaram até o imperador Diocleciano que se encontrava na Nicomédia. Assim, logo foram perseguidos, presos e torturados. Frente ao imperador, viram-se forçados a negar a fé cristã. Justina foi chicoteada, e Cipriano açoitado com pentes de ferro. Não cederam.
Irritado com a resistência, Diocleciano ainda lançou Cipriano e Justina numa caldeira fervente de banha e cera. Os mártires não renunciaram, e tampouco transpareciam sofrimento. O feiticeiro Athanasio (que havia sido discípulo de Cipriano) julgou que as torturas não surtiam efeito devido a algum sortilégio lançado por seu ex-mestre. Na tentativa de desafiar Cipriano e elevar a própria moral, Athanasio invocou os demônios e atirou-se na caldeira. Seu corpo foi dizimado pelo calor em poucos segundos.
Após este fato, o imperador Diocleciano finalmente ordenou a morte de Justina e Cipriano. No dia 26 de Setembro de 304, os mártires e um outro cristão de nome Teotiso, foram decapitados às margens do Rio Galo da Nicomédia. Os corpos ficaram expostos por 6 dias, até que um grupo de cristãos recolheu e os levou para Roma, ficando sob os cuidados de uma senhora chamada Rufina. Já no império de Constantino, os restos mortais foram enviados para a Basílica de São João Latrão.
O famoso Livro de São Cipriano foi redigido antes de sua conversão, mas o mistério que envolve a vida do Santo interfere também em seu livro. Uma parte dos manuscritos foi queimada por ele mesmo. A questão é que não se sabe quando, e por quem os registros foram reunidos e traduzidos do hebraico para o latim, e posteriormente levados para diversas partes do mundo.
No decorrer dos anos, o conteúdo sofreu alterações significativas. Houve uma adaptação de acordo com as necessidades e possibilidades contemporâneas; além da adequação necessária na tradução para os vários idiomas. Esses fatores colocam em dúvida a fidelidade das versões recentes, se comparadas às mais antigas.
Atualmente, não é possível falar do Livro, mas sim dos Livros de São Cipriano. As edições capa preta e capa de aço; ou aquelas intituladas como o autêntico, o verdadeiro, ou o único, enfatizam um mesmo acervo mágico central, e ainda exaltam o cristianismo e a vitória do bem sobre o mal. Porém, existem grandes diferenças no conteúdo. Enquanto alguns exemplares apresentam histórias e rituais inofensivos, outros apelam para campos negativistas e destrutivos da magia.
Num aspecto geral, encontra-se instruções aos religiosos para tratar de uma moléstia, além de cartomancia, esconjurações e exorcismos. A Oração da Cabra Preta, Oração do Anjo Custódio e outras da crença popular também são inclusas (Magnificat, Cruz de São Bento, Oração para Assistir aos Enfermos na Hora da Morte etc.). Além dos rituais de como obter um pacto com o demônio, como desmanchar um casamento e da caveira iluminada com velas de sebo.
No Brasil, o Livro de São Cipriano é usado largamente nas religiões afro-brasileiras, e se tornou um almanaque ocultista de fácil acesso que se dilui na crendice popular. Há ainda os mitos que o cercam: muitos consideram ser pecado possuí-lo ou simplesmente tocá-lo. De qualquer forma, o tema São Cipriano e tudo que o cerca, é um campo de estudo e pesquisa muito interessante para os ocultistas, religiosos e aventureiros. No entanto, não é utilizado na Bruxaria.


capa do livro de sao cipriano

Papus

Gerard Anaclet Vincent Encausse, mais conhecido pelo pseudônimo de Papus (Coruña, Espanha, 13 de Julho de 1865 – † Paris, França, 25 de Outubro de 1916) foi médico, escritor, ocultista, fundador de uma das vertentes Rosacrucianistas, cabalista e maçon.
Filho de pai francês, o químico Louis Encausse, e de mãe espanhola, de origem cigana, a senhora Irene Perez, desde 1869 se mudou com a família para o bairro de Montmartre, em Paris. Estudou primeiramente no colégio Rollin e, depois, com 17 anos, começou a freqüentar a Faculdade de Medicina de Paris.
Ainda jovem, começou a estudar os segredos ocultistas, passando horas na Biblioteca Nacional de Paris ou na Biblioteca do Arsenal, analizando os segredos da alquimia e da Cabala. Em 1882 foi iniciado por Henri Delaage na Sociedade dos Filósofos Desconhecidos, ordem que teria sido fundada dor Louis Claude de Saint-Martin, no século XVIII, na França.


          papus


Paracelso

Na aldeia de Einsiedeln, Suíça, em 17 de dezembro de 1493 (ou em 10 de novembro do mesmo ano; há uma divergência histórica neste ponto), nasceu Phillipus Aureolus Theoperastus Bombastus von Hohenheim. Filho de Wilhelm Bombast, médico e alquimista; e neto de Georg Bombast von Hohenheim, Grão Mestre da Ordem dos Cavaleiros de São João, o jovem de baixa estatura, gago e corcunda, aos três anos de idade, foi atacado por um porco que lhe mutilou o genital, fato que somado a sua aparência física, proporcionou-lhe um complexo de inferioridade que seguiu por toda a vida.

Até mesmo seu extenso nome é alvo das discordâncias. Possivelmente, o nome Theoperastus é uma homenagem ao famoso pensador grego. Já o nome Phillipus (ou Phelix), por vontade própria e motivos desconhecidos, foi acrescentado ao longo da vida; e a alcunha, Aureolus, é uma alusão “divina”, dada por seus admiradores ao longo dos anos.
Na infância, Theoperastus acompanhava seu pai viajando pelos povoados da terra natal, observando a manipulação das ervas usadas para curar enfermos daquela região. Dessa forma, passou a apreciar a atividade paterna. As primeiras noções sobre Teologia, Alquimia e Latim, foram transmitidas por seu pai. Ainda muito jovem, foi enviado à escola de Beneditinos do Mosteiro de Santo André. Lá, conheceu o notável alquimista, Eberhard Baumgartner.
Formou-se nos estudos tradicionais de sua época e seguiu o caminho profissional de seu pai, estudando medicina na cidade de Viena e concluindo em Ferrara, ambas na Itália. A partir deste momento, deu início as suas viagens, passando por Áustria, Egito, Hungria, Tartária, Arábia e Polônia.
Em Salzburg, Áustria, tentou estabelecer-se como médico, mas foi expulso da cidade porque simpatizou com agricultores rebeldes. Recebeu o título de cidadão em Strasburg e partiu para Basel. Após vários conflitos com colegas médicos e farmacêuticos e o próprio conselho de medicina da cidade, Theoperastus recebeu uma ordem de prisão em 1528, forçando sua fuga da cidade. Em Wurzburg, aprendeu com outros sábios a manipulação de produtos químicos, principalmente com Tritêmio, célebre abade e ocultista do Convento São Jorge.
Em 1536, publicou Die Grosse Wundartzney, (Cirurgia Maior), uma coleção de tratados médicos. Escreveu ainda trinta e dois artigos e ilustrações, com previsões de eventos até o ano 2106. Para que seus escritos tivessem uma penetração maior, redigiu todos em alemão, e não em latim, como era o costume.
Viajou pelo país como uma espécie de médico-cigano, e ficou conhecido como “o médico dos pobres” até voltar para Salzburgo em 1540, convidado pelo bispo da cidade. Faleceu em 24 de setembro de 1541 com apenas 47 anos. A causa de sua morte não foi esclarecida. Uma hipótese é que tenha sido vítima de feridas infeccionadas, ocasionadas quando, embriagado, sofreu uma queda numa taberna. O corpo foi velado na igreja de São Sebastião e, conforme seu último desejo, foram entoados os salmos bíblicos 1, 7 e 30.
Há diversos vácuos e incoerências na biografia deste personagem, também conhecido como Hohenheim. Estas poucas informações são os registros históricos mais confiáveis da vida de Paracelso, que teria adotado (ou recebido de seu pai) este apelido por ser “superior a Celso”, famoso médico romano da Antigüidade.
Sua vida pautada pelas polêmicas e conturbações que sua personalidade pouco adequada àqueles tempos lhe infligia. Esta frase de sua autoria exemplifica: “Ponderei comigo mesmo que, se não existissem professores de Medicina neste mundo, como faria eu para aprender essa arte? Seria o caso de estudar no grande livro aberto da Natureza, escrito pelo dedo de Deus. Sou acusado e condenado por não ter entrado pela porta correta da Arte. Mas qual é a porta correta? Galeno, Avicena, Mesua, Rhazes ou a natureza honesta? Acredito ser esta última. Por esta porta eu entrei, pela luz da Natureza, e nenhuma lâmpada de boticário me iluminou no meu caminho”.
Além da medicina, era versado em filosofia e política. Mas seus escritos estão relacionados principalmente com a sua profissão e chegam a mais de 8 mil páginas. Porém, apenas uma pequena parte é conhecida e estudada. A linguagem aplicada em sua obra é alegórica e passível de interpretação, um recurso utilizado para que não pudesse ser acusado de feitiçaria pelo implacável mecanismo inquisitório medieval. Conta-se que certa vez, Paracelso queimou em público diversos livros de Galeno e Avicena, dizendo: “Que toda esta miséria possa ir pelos ares como fumaça”.
Até mesmo a forma de exercitar seu ofício era contestada. Acreditava ele, que a função de um médico ia além do diagnóstico e receituário convencional; era necessário um estudo do paciente e uma compreensão da doença em aspectos como a astrologia, alquimia, magia e outras variações esotéricas.
A medicina daquele tempo, baseada no pensamento do filósofo Hipócrates, acreditava que as doenças eram causadas por mau funcionamento dos fluídos do corpo humano: sangue, catarro, bílis preta e bílis amarela. Paracelso contestou e simplificou este conceito. Segundo ele, os seres materiais têm origem em quatro elementos: terra, água, ar e fogo; e três substâncias: enxofre, mercúrio e sal. Os primeiros são realidades materiais compreendidas dinamicamente. Enquanto os outros são modalidades de comportamento da natureza. Ou seja, o enxofre é combustível, o mercúrio é volátil e o sal é resistente ao fogo. Portanto, a saúde é o equilíbrio, e a doença é o desequilíbrio de todas as energias presentes no ser humano, tanto no corpo físico como espiritual.
De acordo com Paracelso, a cura apóia-se em quatro bases distintas: filosofia, astronomia, alquimia e virtus. A filosofia significa: abrir-se ao conjunto das forças naturais, observar essas forças invisíveis na penetração da realidade total e perceber o invisível no visível. A astronomia explica as influências dos astros na saúde e nas enfermidades. A alquimia torna-se útil no preparo dos medicamentos. O termo virtus é uma alusão a honestidade do médico que, através do raciocínio de Paracelso, é uma pessoa em constante evolução e aperfeiçoamento, e deve reconhecer a ação da natureza invisível no doente ou, em se tratando do remédio, como atua no plano visível. Assim, o conhecimento médico tem menos a ver com conhecimento intelectual do que com a intuição.
Paracelso fazia freqüentes associações entre Magia e Imaginação. “O visível esconde o invisível, mas apesar disso conseguimos o invisível apenas através do visível”, dizia. Nesse caso, magia significa a ação direta sobre as pessoas e todos os seres, sem ajuda da matéria. Ou seja, o mago é capaz de causar efeitos físicos sem ajuda física. No livro Paracelso, Alquimista, Químico, Pioneiro da Medicina, o historiador e filósofo Lucien Braun, cita: “toda natureza invisível se movimenta através da imaginação. Se a imaginação fosse forte o suficiente, nada seria impossível, porque ela é a origem de toda magia, de toda ação através da qual o invisível (de um ou outro modo) deixa seu rastro no visível. A energia da verdadeira imaginação pode transformar nossos corpos, e até influenciar no paraíso…”.
Além disso, o médico suíço reconheceu que a fé fortalece a imaginação. Isso inclui as curas milagrosas atribuídas a ele e que não foram apenas resultado dos medicamentos, mas serviram para influenciar conscientemente a ação da imaginação do próprio paciente, de modo que agisse diretamente no desejo de ser curado. Atualmente, há na medicina, o chamado placebo, uma substância sem qualquer efeito farmacológico, prescrita para levar o doente a experimentar alívio dos sintomas pelo simples fato de acreditar nas propriedades terapêuticas do produto. De certa forma, pode-se entender que Paracelso já fazia uso deste recurso há mais de 500 anos. Outro fator interessante de seu raciocínio, é que ele também associava as características exteriores de uma planta a sua função medicinal. Por exemplo, folhas em forma de coração foram recomendadas para doenças cardíacas.
Personagens como Van Helmont e Friedrich Franz Mesmer deram continuidade aos trabalhos de Paracelso. O pensamento e a atitude do sábio suíço influenciaram não apenas as ciências e o ocultismo de sua época, mas até hoje são lembrados e utilizados como base de estudos modernos. Até mesmo durante uma epidemia de cólera, em 1830, seu túmulo foi objeto de peregrinação.
Sabe-se que Paracelso nasceu no ano de 1493, o dia e o mês ainda são discutíveis. Mas isso não é tão importante, porque foi um homem além de seu tempo, além das datas e do pensamento. Seu legado de obras escritas e ensinamentos compõem o que atualmente é chamado de Medicina Experimental. Formulou os primeiros conceitos da homeopatia, farmacologia, medicina psicossomá- tica, psicologia e bioenergética. Um médico esotérico que, como todos os outros “não esotéricos”, tinha apenas um objetivo: prolongar a existência humana na Terra.


                   paracelso

Nostradamus

Michael de Notre Dame (pelo nome latino Nostradamus) nasceu em 14 de dezembro de 1503 na cidade de Saint-Rémy, Provence, França. De pais judeus, foi o primeiro de 5 filhos do casal Jaume e Reynière, posteriormente convertidos ao catolicismo.
Desde a infância, Nostradamus freqüentava a Igreja com assiduidade e demonstrava interesse por literatura clássica, filosofia e fundamentos de medicina. Seus avós (ascendentes de Ishacar, um povo constituído de sábios e profetas) lhe transmitiram ensinamentos astrológicos, matemáticos e ocultistas; além de latim, grego e hebraico. Aos 14 anos em Avignon, deparou-se e aderiu a teoria opositora do Heliocentrismo, baseada na premissa de que não a Terra, mas o Sol era o centro do universo.

Em 1522, Nostradamus foi estudar medicina na universidade de Montpellier. Um médico-astrólogo de origem judaica, era uma personalidade facilmente visada para os Inquisidores. Por isso, completou o bacharelado e vagou pela Europa, ganhando reputação ao curar com ervas os enfermos da peste bubônica que assolava o século XVI. Ainda que eficientes, seus métodos medicinais eram muito contestados na época.
Retornou à universidade em outubro de 1529, concluiu o doutorado e recebeu o chapéu quadrado dos médicos, o anel de ouro e as obras de Hipócrates. Lecionou nesta universidade por um ano e voltou a perambular em busca das vítimas da peste.
Em 1534, Nostradamus estava em Agen quando conheceu a jovem e rica Adriette du Loubejac. Casou-se e teve dois filhos. Porém, sua esposa e as crianças foram subitamente mortas pela peste. Após este fato, Nostradamus foi para Luxemburgo e isolou-se no mosteiro de Orval.
Na cidade de Marselha, o profeta dedicava-se totalmente a medicina quando foi convidado por seu irmão, Bertrand, para ir a Salon. Lá, foi apresentado à rica viúva Anne Ponsard Gemelle, com quem casou-se novamente e teve três filhos e três filhas. Nessa época, escrevia e comercializava um periódico anual sobre a previsão meteorológica que fazia grande sucesso entre os agricultores locais; além dos livros de receitas de cosméticos, perfumes e conservação de alimentos.
As profecias de Nostradamus eram feitas em profundo estado de transe. Também utilizava cálculos astrológicos para definir a data e horário mais adequado. Na Sexta-Feira Santa de 1554, deu início a sua mais famosa obra: As Centúrias.
As Centúrias são as profecias compiladas em 10 livros, sendo que cada um possui 100 quadras (rimas em quatro linhas, que totalizam 1000 previsões). Não seguem coerência cronológica, e foram escritas combinando francês arcaico, grego, latim e um dialeto do sul da França denominado Languedoc. Além disto, existem anagramas, referências mitológicas e astrológicas numa linguagem subjetiva que dificulta a compreensão. Alguns estudiosos afirmam que esse foi um recurso utilizado para se esquivar da Santa Inquisição.
A primeira parte das Centúrias foi publicada em maio de 1555 pela casa Mace Bonhomme, de Lyon. O prefácio assinado por Nostradamus dedicava o livro a César, seu filho recém-nascido. A segunda parte foi publicada apenas em 1557. O trabalho seria concluído em quatro anos.
A quadra 35 da Centúria I, cita com quatro anos de antecedência a morte do Rei Henrique II num duelo. Assim, a Rainha Catarina de Médicis o convocou para fazer o horóscopo dos nobres. Através da vidência, o profeta ainda resolveu um caso de roubo da Catedral de Orange. Dessa forma, Nostradamus conquistou notoriedade pela sua capacidade de prever o futuro e ficou conhecido como O Mago de Salon.
Em sua totalidade, as Centúrias trazem previsões generalizadas de acontecimentos significativos da humanidade à partir de 1557, tais como as guerras mundiais, a revolução francesa, o assassinato de Kennedy, e o surgimento de Napoleão e Hitler. O fim do mundo ocorreria no ano 7000, quando o Sol destruiria a Terra e retomaria sua condição suprema no universo. Porém, existe uma dúvida se a previsão foi baseada no calendário judeu ou cristão. O profeta também anteviu as calúnias que ele próprio sofreria ao longo dos séculos, e a comercialização de sua imagem e obra.
De volta a Salon, Nostradamus construiu um laboratório-observatório em sua casa. Sofrendo de artrite hidropisia, o profeta preparou seu testamento em junho de 1566, falecendo no início do mês seguinte. Os restos mortais foram sepultados no convento de Cordeliers, segundo sua vontade. A própria morte está prevista no presságio 141, a última quadra das centúrias:
“De retorno da Embaixada, tendo o presente do rei colocado no lugar,
Nada mais fará, será levado a Deus:
Os parentes mais próximos, amigos, irmãos de sangue,
Encontrá-lo-ão morto perto do leito e do banco.”
Havia um mito que Nostradamus teria sido enterrado com um documento capaz de elucidar todas suas previsões. Em 1700, vândalos romperam o esquife em busca destas instruções. Encontraram sobre o esqueleto, um medalhão com a inscrição 1700. O profeta havia antecipado o ano que seu corpo seria exumado.
Em 1791 durante a Revolução Francesa, soldados antimonarquistas violaram as tumbas do convento e os ossos de Nostradamus foram espalhados pelo local. Quando souberam que o profeta havia previsto a queda da monarquia francesa, os ossos foram devolvidos ao caixão e trasladados para a capela da Virgem, na igreja de Saint-Laurent, em Salon.
Ao longo dos séculos, o nome de Nostradamus se tornou um sinônimo de Profecias. As Centúrias é a segunda obra mais editada em todo o planeta, perdendo apenas para a Bíblia Cristã. A linguagem codificada acrescenta uma atmosfera ainda mais misteriosa em torno do tema. Se analisarmos, as profecias nada mais são que informações, um produto de grande valor na história da humanidade, e principalmente nos dias atuais.

            nostradamus

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